Lilian Varella, do Drosophyla

Lilian Varella nunca nutriu o sonho de ser mãe: seu desejo, desde muito cedo, era ter um bistrô. Desses clássicos franceses, bem de filme, que servisse como um ponto de encontro de pessoas interessantes. Com o passar do tempo, concluiu que um bar seria mais adequado à proposta. Há 37 anos, Lilian dava à luz o primeiro Drosophyla, ainda em Belo Horizonte, cidade onde nasceu. Depois dele, vieram várias versões, sempre batizadas de Drosophyla, mas com "sobrenomes" internacionais como "Halle", "Mais Que Bar" e "Sensation Bizarre". Ao todo, a "prole" foi de sete bares – com o "caçula", o Drosophyla Madame Lili, instalado num casarão histórico de dois andares na Bela Vista, em São Paulo.

 

Mas, voltando a 1986… Naquela época, Lilian era uma jovem que trabalhava numa das muitas "boutiques" da capital mineira. Não tinha dinheiro, formação ou experiência na área, mas estava disposta a fazer seu empreendimento dos sonhos acontecer. Convidou uma conhecida para a sociedade. Venderam de rifas a quadros, passando por sanduíches e bebidas, tudo para juntar grana e abrir o tal bar. Deu certo. A primeira encarnação do Drosophyla foi numa "garaginha" que não tinha nem banheiro – os clientes precisavam contar com a boa vontade de um vizinho para se aliviar. Os bancos onde eles se sentavam foram feitos como parte do programa de redução de pena de um presídio local. O frete do mobiliário foi feito numa carroça que Lilian arrumou numa loja de materiais de construção. Tudo no perrengue. Mas o perrengue se pagou.

 

Lilian Varella, do Drosophyla

 

"Ainda bem que o bar já nasceu benzido, vivia cheio", diverte-se Lilian. Ela deu a sorte de encontrar um ponto próximo a uma faculdade na Savassi, ponto boêmio da cidade, atraindo os estudantes sedentos por uma bebida após as aulas. Quando o aluguel venceu, Lilian e sua sócia decidiram mais uma vez pelo improvável e ocuparam um apartamento enorme num lugar meio abandonado – "meio Nova York" – diz ela. Na portaria, uma tia fazia as vezes de hostess, sentada em uma mesinha improvisada. No espaço, um loft no meio do nada, as pessoas dançavam e havia performances. "Diferente de tudo que havia em Belo Horizonte".

 

Depois de uma temporada no exterior para reabastecer as energias e buscar referências, Lilian voltou e ocupou um galpão abandonado. Mas não era qualquer galpão. O novo Drosophyla ocupava um espaço de 600m2, onde, além de 30m de balcão de bar e pista de dança, eram realizados shows. Foi lá que bandas mineiras como Jota Quest iniciaram a carreira, tendo Lilian como madrinha.

 

Até que a vida – e o amor – trouxe Lilian para São Paulo em 2002. "Foi o famoso 'casei, mudei e não te convidei'. Belo Horizonte é bacana, mas São Paulo é São Paulo, né? Quis sair de lá e descobrir novas coisas". Em Belo Horizonte deixou muitos órfãos – inúmeros clientes que cativou durante 15 anos trabalhando na noite. Depois de uma década em uma casinha misteriosa, "dos sonhos", na Bela Vista, chegou a vez de ocupar o casarão no mesmo bairro, onde o Drosophyla Madame Lili está instalado desde 2015 – depois de cerca de um ano de reforma e restauro no imóvel de 1920, que é tombado pelo patrimônio histórico.

 

Drosophyla: O conceito por trás do bar, belissimamente decorado  – e que permeia o cardápio de comes e bebes – é baseado na tal Madame Lili Wong, personagem fictícia criada por Lilian, que teria vindo de Shanghai nos anos 1920. Uma grande artista, poetisa, Madame Lili realizava saraus e bailes, frequentados por todas as pessoas cool da época. Para beber, curta o Strawberry Jack (Jack Daniel’s, purê de morangos, xarope de mel com gengibre e limoncello).

 

Rua Nestor Pestana, 163 - Bela Vista, São Paulo. Ter e qua, das 18h a 0h. Qui a sáb, das 18h à 1h.